quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Ocupação sionista em dificuldades - por Elsa Sertório



A verdade é que, se a Assembleia Geral da ONU votar a favor da proposta palestina, ela estará reconhecendo - ou relembrando – que os territórios ocupados desde 1967 são territórios “ilegalmente” colonizados.

Muita tinta já correu nos meios pró-palestinos desde que a Autoridade Palestina (AP) anunciou a sua intenção de propor à Assembleia Geral da ONU, neste mês de setembro, o reconhecimento de um Estado palestino dentro das fronteiras de 1967. O debate tem sido centrado nas consequências positivas ou negativas que teria a criação - efetiva ou apenas formal - de um Estado assim definido. Mas não pretendemos aqui retomar esse debate, posicionando-nos num ou noutro dos lados. Lembremos apenas que a independência do Estado da Palestina já foi reconhecida pela ONU no dia 15 de novembro de 1988.


Três anos depois, a OLP assinava os Acordos de Oslo e reconhecia o Estado de Israel. Foi o início de uma farsa chamada de “processo de paz”, que tem permitido a colonização de cada vez mais territórios palestinos e a liquidação de todos aqueles que se apresentaram como negociadores dispostos a fazer cessões - uma verdadeira ameaça para a política colonialista israelense: foi o caso de Marwan Barghouti (em prisão perpétua), de Ahmed Saadat (cumprindo pena de 30 anos de prisão), de Yasser Arafat (assassinado).

A verdade é que, se a Assembleia Geral da ONU votar a favor da proposta palestina, ela estará reconhecendo - ou relembrando – que os territórios ocupados desde 1967 são territórios “ilegalmente” colonizados. Essa votação favorável significaria, antes de tudo, o reconhecimento do direito à autodeterminação do povo palestino. E são esses os resultados que o Estado de Israel não quer, de modo algum, permitir que ocorram.

Estado palestino

O fato de que, ultimamente, inúmeros países tenham reconhecido - platonicamente, seja dito - o “Estado” palestino tem exasperado o governo israelense. Mesmo quando alguns desses países estão entre os seus melhores parceiros econômicos, ou militares, como é o caso do Brasil. O que nós podemos considerar como gestos de hipocrisia é visto por Israel, não sem razão, como pontos marcados a favor da causa palestina.

Os Estados Unidos têm se oposto veementemente a qualquer reconhecimento de um Estado palestino. Diretamente ou por via da administração norte-americana, Israel tem pressionado a Autoridade Palestina a recuar através da chantagem econômica, ameaçando cortar os fundos que são regularmente destinados, entre outras coisas, ao pagamento dos salários do aparato administrativo e policial da AP.

Paralelamente, o governo de Israel desenvolve uma vasta campanha internacional de propaganda contra a iniciativa da Autoridade Palestina junto à ONU, pois sabe que a “legitimidade” do Estado judeu é definida no plano da opinião pública internacional. Qualquer desequilíbrio a favor dos palestinos pode pô-la em perigo. Pelo menos esta é a convicção de vários dirigentes israelenses que têm se manifestado nesse sentido na mídia.

Pelo seu lado, a Autoridade Palestina tem se esforçado para dar sinais aos seus financiadores de que quer limitar a sua iniciativa às instâncias das Nações Unidas e continuar contendo a resistência popular contra o ocupante. Nesse sentido, aceitou que os responsáveis dos seus organismos policiais se encontrassem nos Estados Unidos com os homólogos israelenses. Entretanto, continua detendo militantes do Hamas na Cisjordânia, apesar do recente acordo assinado com a organização rival.

Mas nem Israel nem os Estados Unidos parecem sensíveis a esses sinais e continuam chantageando a AP para que esta desista da sua proposta perante a ONU, temendo que ela contribua ainda mais para o isolamento de Israel.

Campanha BDS

Este isolamento teve início com os avanços da campanha BDS - boicote, desinvestimento e sanções - internacionalmente. Muito recentemente, a Deutsche Bahn, companhia nacional ferroviária da Alemanha, desistiu de participar no projeto de ligação ferroviária de Telaviv a Jerusalém, como consequência das pressões desta campanha. Um exemplo já antigo do êxito da BDS é o da multinacional francesa Veolia, que continua ainda hoje a ser financeiramente castigada pela sua cumplicidade na construção do elétrico (bonde, N.T.) que une os assentamentos ao redor de Jerusalém. Temos ainda os exemplos de boicote cultural, com as dezenas de artistas que já recusaram ou cancelaram seus espetáculos em Israel.

Só citamos aqui esses poucos exemplos ilustrativos. Uma discussão na Assembleia Geral das Nações Unidas sobre o reconhecimento de um “Estado” palestino só deveria levar à aplicação de sanções e desinvestimentos por parte dos países que dizem defender o direito do povo palestino à autodeterminação. No nível autárquico, já tivemos o bom exemplo, muito simples, de duas prefeituras espanholas da província de Valladolid que proibiram a água Eden Springs em todos os edifícios municipais. Se essas ações, por um lado, têm um impacto direto na economia israelense, elas contribuem, por outro, à tomada de consciência e à ampliação da onda de solidariedade para com a Palestina no resto do mundo.

Uma votação na ONU a favor de um Estado palestino certamente não resolverá o problema da ocupação sionista nem sequer dará origem a um Estado independente, mas, surgindo neste contexto das revoluções árabes, terá sem dúvida um potencial mobilizador, em particular para a campanha do BDS.


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