domingo, 4 de novembro de 2012

CHAPADA DO APODI: ENTRE O AGRONEGÓCIO E A AGRICULTURA FAMILIAR

Agricultura: origem e sustentáculo de todos nós.

As atividades agrícolas e demais atividades em torno destas são de vital importância a ponto de, espantados, pergutarmo-nos: por que nossas escolas não tratam desse assunto de modo mais claro, direto, objetivo (vivencial) na educação de crianças e jovens?

Imagine qualquer cidade. A que você mora, por exemplo. Observe de onde vêm as coisas para o consumo, alimentos de toda sorte, in natura ou industrializados, e veja se, sem o trabalho que se opera nos campos, ao longe (ou nem tanto), existiria esse lugar em que você mora. E não há só alimentos, mas, por enquanto, fiquemos apenas com esse “item”.

Com o alargamento das culturas urbanas e as muitas “metamorfoses” dos citadinos, ocorre um esquecimento dessa origem comum e imprescindível a todos: o meio rural, seus agentes e seus produtos (materiais e imateriais). Daí o desinteresse da maioria das pessoas das cidades pelo que se passa em tal meio, exceto se a visão sobre esse meio ― significados e símbolos, idéias, sentires ― já for algo metabolizado nalguma cultura urbana.

Projetos irrigados se desenvolvem, em tese, com vistas a atender a milhares ou milhões mesmo de pessoas (das cidades), e essas pessoas pouco ou nada dão conta de entender melhor esses empreendimentos e a totalidade de seus impactos.

Se não nos interessamos pelos lugares onde nossos alimentos são produzidos, também não saberemos como se dá tal produção, como é o regime de trabalho, se há ou não uma visão de proteção do meio ambiente, se há ou não um cuidado para com as comunidades e culturas locais, enfim, se há ou não uma visão de sustentabilidade para com as pessoas de lá e de cá, nós, os consumidores finais.

E aqui bem perto, o Perímetro Irrigado de Apodi tem uma história muito interessante a nos contar, uma história que tem como centro a disputa entre dois modelos de prática agrícola: a agricultura familiar e sustentável versus o agronegócio (a empresa rural concentradora de terras e poder nas mãos de uns poucos).

Na verdade, trata-se de uma entrevista do sociólogo Antonio Alves Bezerra, membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Mossoró-RN, concedida ao portal IHU Online, em que ele diz:

“Esse projeto do perímetro irrigado da Chapada do Apodi é um contrassenso a tudo o que hoje se constrói na chapada e se discute no mundo. É um projeto que prevê entregar as terras da chapada do Apodie a água da barragem de Santa Cruz, que tem capacidade de armazenar 600 milhões de metros cúbicos, a cinco grandes empresas da fruticultura irrigada. É um projeto que não deu certo em lugar algum. O próprio governo reconhece que os perímetros irrigados do Nordeste não foram viáveis. Dados do próprio governo mostra que há no Nordeste mais de 140 mil hectares de terras em perímetro irrigados ociosos, sem funcionar. Esse projeto está propondo irrigar cinco mil hectares de terra em sua primeira fase para produzir cacau – que é totalmente desconhecido na região –, uva, goiaba, com base na utilização em grande escala de agrotóxicos e sob o domínio de cinco grande empresas. Querem transformar um território camponês produtor de alimentos saudáveis em uma zona de produção de frutas para exportação com base na utilização em grande escala de agrotóxicos. E, com isso, transformar uma pequena parcela da população local em mão de obra barata e em condições sub-humanas, características do agronegócio brasileiro."
 
Leia você mesmo(a) o contundente relato do sociólogo aqui: ”RN. Projeto do perímetro irrigado da chapada do Apodi. Um contrassenso”.
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